Projeto Hidrosfera monitora a qualidade das “águas invisíveis”

Iniciativa da Itaipu Binacional, Itaipu Parquetec e Universidade Federal do Paraná avalia os aquíferos da Bacia do Paraná 3

Cuidar das águas é um trabalho que vai muito além dos rios, lagos e nascentes. É preciso estar atento a elas também quando elas correm por baixo da terra, nos aquíferos – grandes reservas subterrâneas de água. Essas “águas invisíveis” garantem o abastecimento de muitas cidades e também são utilizadas em atividades econômicas como a agricultura e a indústria.

Para a Itaipu Binacional, que utiliza água para produzir energia elétrica, o cuidado com esse bem é fundamental, e não apenas da água do reservatório. Em parceria com o Itaipu Parquetec e o Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da Universidade Federal do Paraná (LPH-UFPR), a usina monitora também as águas subterrâneas. É o projeto Hidrosfera, criado em 2018. Por meio dele, pesquisadores das três instituições fazem o acompanhamento periódico do armazenamento e da qualidade das águas dos aquíferos da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná 3, que ladeia o reservatório da usina.

O projeto Hidrosfera possui duas redes de monitoramento, em um total de 60 poços monitorados na Bacia do Paraná 3. Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

As águas subterrâneas representam 99% da água doce disponível do planeta. Na Bacia Hidrográfica Paraná 3 o Sistema Aquífero Serra Geral é responsável por 89% da demanda de água para consumo humano e 50% da demanda da agricultura. A BP3 é considerada a região brasileira de maior potencial de produtividade de água subterrânea sobre aquíferos fraturados vulcânicos.

“É preciso conhecer esse aquífero e fazer esse monitoramento, assim como fazemos com a nossa saúde, que exige exames periódicos para saber se está tudo certo e o que podemos fazer para melhorar nossa qualidade de vida”, explica o professor Gustavo Barbosa Athayde, diretor do Núcleo Científico do Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da UFPR e coordenador do projeto Hidrosfera. 

A coleta das amostras para mensuração da qualidade ocorre a cada três meses. Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

Em 2023, já com a metodologia consolidada e 60 poços de monitoramento instalados, o projeto iniciou uma nova fase. A ideia é criar um ambiente digital que permitirá a visualização dos resultados obtidos de forma mais didática, auxiliando na tomada de decisão para a gestão das águas subterrâneas e na criação de políticas públicas para a garantia da segurança hídrica. Esses dados podem ser utilizados, por exemplo, para a prevenção de futuras estiagens e para a definição de períodos em que há aumento do nível das águas e pode-se ampliar a produção dos poços tubulares.

“Queremos estabelecer um canal direto de comunicação que mostre os resultados, para que a própria população consiga aprender e buscar mais cuidado com o uso das águas, ou para que haja uma cobrança por parte das agências governamentais, para que não tenhamos deterioração na qualidade das águas”, afirma o professor.

Estrutura

O projeto Hidrosfera possui duas redes de monitoramento, em um total de 60 poços monitorados na Bacia do Paraná 3. Em 24 deles, existem sensores instalados para acompanhar a variação do nível das águas subterrâneas. Nos outros 36, a água é coletada a partir de uma bomba instalada nos poços tubulares destinados ao abastecimento de cidades. Neles é feita a avaliação da qualidade dos recursos hídricos, para saber suas aptidões e se há algum tipo de contaminação.

“Na parte do monitoramento hidroquímico, são feitas inúmeras análises, como de poluentes, íons dissolvidos e monitoramento de agrotóxicos. Fizemos uma varredura de parâmetros bem extensa nos quatro anos de projeto, para conhecer realmente a qualidade da água subterrânea”, explica Bianca do Amaral, que coordena a equipe do laboratório no PTI.

A coleta das amostras para mensuração da qualidade ocorre a cada três meses. Já a medição dos níveis é feita de forma horária, com a coleta de dados em campo realizada pelos técnicos do projeto a cada 45 dias.

“Com esses dados, pretendemos mostrar a variação da quantidade de água no aquífero ao longo de um período: quanto de água está armazenada, quanto está saindo, se tem relação com a chuva. Isso é importante para saber se o aquífero está sendo recarregado, se estamos tirando mais água do que o que está entrando”, ressalta Lucas Garcia, gestor do projeto pela Itaipu Binacional.