Aproveitar os resíduos orgânicos gerados na propriedade é fundamental para promover a sustentabilidade agrícola e a conservação do ambiente. Mas como utilizar esses materiais de forma a otimizar seu aproveitamento? Essa é a abordagem do curso de compostagem oferecido gratuitamente na plataforma e-Campo — espaço virtual destinado à divulgação de capacitações oferecidas pela Embrapa. Voltado para estudantes, agricultores familiares, técnicos das áreas rurais e urbanas, o conteúdo engloba temas como matéria orgânica, aproveitamento de resíduos e compostagem, com informações detalhadas sobre planejamento, condução e avaliação de processos de compostagem, além das principais formas de utilização de compostos orgânicos.
O responsável pelo conteúdo é o engenheiro agrônomo Marco Antônio de Almeida Leal, pesquisador da Embrapa Agrobiologia, que trabalha com compostagem há cerca de 20 anos. “Esperamos que os alunos tenham acesso aos conhecimentos necessários para que possam realizar compostagens de maneira eficiente e que consigam melhorar o reaproveitamento de resíduos e subprodutos para a produção de insumos agrícolas”, afirma o pesquisador.
Só em 2024, o curso de compostagem em formato EAD ultrapassou 10 mil inscritos. “O sucesso é consequência de este ser um tema sobre o qual as pessoas estão buscando muito conhecimento, mas às vezes não acham de maneira centralizada e detalhada. Muitas vezes, precisam buscar várias fontes, o que dificulta”, explica Leal. Para ele, a carga horária também é um fator que contribuiu para o bom desempenho do curso – com apenas 12 horas de duração, incluindo o tempo de fazer as provas e rever os vídeos, fica mais fácil para que os interessados tenham disponibilidade de estudar e concluir os módulos.

O especialista também cita a linguagem utilizada como um fator positivo. “É uma linguagem bastante eclética e intuitiva. Ela atende desde pessoas com pouco conhecimento até aquelas com conhecimento mais aprofundado do assunto”. Em sua maioria, os participantes afirmaram que são iniciantes no tema, mas 88% disseram que pretendem aplicar o conhecimento adquirido. É o caso de Darci Roberto, morador do Rio Grande do Sul, na faixa dos 60 anos: “O curso me fez refletir sobre como utilizar melhor os recursos naturais. Eu sou um entusiasta de jardinagem e adquiri o conhecimento para produzir meu próprio composto orgânico”.
Já Roberto Meira, professor e pequeno produtor da Bahia, diz que pretende aplicar o que aprendeu na sua própria propriedade: “Como pequeno produtor, vejo que o curso trará muitos ganhos no preparo de compostos para melhoramento do solo e nutrição para o desenvolvimento das culturas que produzo”.
Por ser uma capacitação gratuita realizada no formato de ensino a distância, interessados de todos os estados do país e até do exterior podem participar. A maioria dos inscritos é de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Mas o curso chegou até outros 24 países. Samiro Hovasse, estudante de curso superior na faixa dos 20 anos, é de Moçambique e agradeceu à Embrapa pela disponibilização do curso em seu país: “Muito obrigado por pensarem em todos os países. Eu sou de Moçambique e com este curso aprendi muito.”
O curso tem inscrições abertas permanentemente.
A compostagem
A compostagem é uma tecnologia que busca aumentar a eficiência dos processos de reciclagem de resíduos orgânicos, de modo que possam ser reaproveitados na agricultura com segurança. Milhões de toneladas de materiais orgânicos são geradas anualmente no Brasil, e o aproveitamento desse resíduo é fundamental para promover a sustentabilidade agrícola e a conservação do ambiente. A reciclagem evita que os nutrientes se acumulem em determinado local, podendo causar problemas ambientais, enquanto são demandados em outros locais para produção vegetal. No entanto, antes de serem empregados na produção agrícola, esses materiais orgânicos devem passar por processos de estabilização e descontaminação.

É aí que entra a compostagem, proporcionando as condições ideais para a obtenção de fertilizantes e substratos orgânicos, ricos em nutrientes e com níveis aceitáveis de contaminação. Ela é realizada por meio da utilização de materiais ricos em carbono e pobres em nitrogênio, como bagaço de cana, serragem ou palhada de gramíneas, misturados com materiais ricos em nitrogênio, como esterco bovino, torta de mamona ou folhas de leguminosas, visando à obtenção de uma mistura com teor mediano de nitrogênio.
As matérias-primas devem ser misturadas, umedecidas e amontoadas em leiras – e o período de compostagem depende das características das matérias-primas utilizadas, da eficiência do processo e da forma de utilização do composto orgânico produzido, geralmente durando entre 60 e 120 dias.
Os processos de compostagem devem ser adequados à realidade brasileira e aproveitar os materiais localmente disponíveis, reduzindo a necessidade de mão de obra. A Embrapa desenvolve ações de pesquisa e capacitação sobre a compostagem de diversos materiais, determinando protocolos de produção e coeficientes técnicos do processo.