O protagonismo feminino e o futuro do cooperativismo no Brasil

Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB e vice-presidente da diretoria do Instituto Pensar Agro (IPA)

Nos últimos anos, o cooperativismo brasileiro tem demonstrado um avanço significativo na inclusão de mulheres, não apenas como cooperadas, mas também em posições de liderança. Essa evolução não é apenas simbólica; ela reflete o papel crucial que as mulheres desempenham no fortalecimento desse modelo econômico. Mais do que gerar trabalho e renda, o cooperativismo promove prosperidade para as comunidades onde está inserido, e a presença feminina tem sido essencial para o alcance desses objetivos.

Dados recentes do Anuário do Cooperativismo Brasileiro mostram crescimento da participação feminina no movimento. As mulheres representam 41% dos cooperados no Brasil e superam a presença masculina entre colaboradores, com 52% do total. Estados como o Ceará já mostram uma inversão dos dados históricos, com mulheres representando 63% do quadro social das cooperativas. Esses números são um indicativo claro da quebra de barreiras em um ambiente historicamente dominado por homens e da ascensão das mulheres em diversos ramos, como Consumo, Crédito, Saúde e Trabalho.

No contexto da agricultura familiar, as mulheres têm um papel vital para o desenvolvimento econômico de suas famílias. De acordo com a FAO, na América Latina e Caribe, cerca de 60 milhões de mulheres atuam no campo, sendo responsáveis pela produção de 60% a 80% dos alimentos consumidos na região. No Brasil, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que, em 2023, a participação das mulheres no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) atingiu um índice de 73%. Além disso, dados do IBGE indicam que as mulheres rurais são responsáveis por 43% da renda de suas famílias, superando a proporção observada em áreas urbanas.

Iniciativas como o movimento Elas Pelo Coop, coordenado pelo Sistema OCB, que é o órgão de representação das cooperativas no Brasil, são fundamentais para promover o envolvimento de mulheres em cargos de liderança e demonstrar que a diversidade fortalece as decisões e estratégias adotadas pelas cooperativas. Políticas públicas e programas específicos, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que oferece linhas de crédito para mulheres agricultoras, são essenciais para apoiar e incentivar a participação feminina na agricultura familiar.

A visão, a capacidade de articulação e o comprometimento das mulheres são qualidades que fazem a diferença na gestão e no crescimento sustentável das cooperativas. Promover a equidade de gênero não é apenas uma questão de justiça social; é uma estratégia fundamental para o fortalecimento do cooperativismo enquanto modelo econômico capaz de enfrentar os desafios do futuro.

Reconhecer e impulsionar as mulheres rurais é uma necessidade urgente. É hora de valorizar a base da agricultura familiar e garantir que as mulheres tenham o apoio e os recursos necessários para continuar desempenhando seu papel central na produção de alimentos e no desenvolvimento de suas comunidades.

O cooperativismo, ao promover a inclusão e a igualdade de gênero, não apenas contribui para uma sociedade mais justa, mas também se fortalece enquanto motor do desenvolvimento sustentável e do bem-estar coletivo. A inclusão feminina no cooperativismo, especialmente na agricultura familiar, é um caminho claro para um futuro mais próspero e equitativo. Ao acreditarmos no lema “lugar de mulher é onde ela quiser”, devemos assegurar que as mulheres do campo tenham as oportunidades e o reconhecimento que merecem. Afinal, é com suas mãos que muitas das sementes do futuro são plantadas.