Leguminosas pulses e bioinsumos: uma contribuição ao desenvolvimento sustentável para a agricultura familiar

Anelise Dias, Ederson da Conceição Jesus, Gustavo Ribeiro Xavier, Luc Felicianus Marie Rouws, Márcia Reed Rodrigues Coelho e Norma Gouvêa Rumjanek

Pulses são leguminosas de grãos que são consumidos secos, apresentando alto teor de proteínas e fibras e baixo teor de gorduras. Constituem um alimento de alta qualidade para a nutrição humana e a segurança alimentar. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) lista um grupo de pulses que fazem parte da dieta humana, como feijões – incluindo o feijão-comum (Phaseolus vulgaris), o feijão-mungo (Vigna angularis), o feijão-caupi (Vigna unguiculata), o feijão-de-lima ou feijão-fava (Phaseolus lunatus), o feijão-azuki ou azuki (Vigna angularis) e o feijão-da-Espanha ou feijão-trepador (Phaseolus coccineus) –, grão de bico (Cicer arietinum), ervilha (Pisum sativum), lentilha (Lens culinaris), fava (Vicia fava) e guandu (Cajanus cajan).

Feijão-caupi. Foto: Maria Eugênia Ribeiro

Pelo seu alto valor nutritivo e custo relativamente baixo, os grãos pulses são uma alternativa ao consumo de proteína animal, o que pode favorecer, principalmente, uma parcela da população economicamente menos favorecida e, por isso, com acesso limitado a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para uma vida saudável.

Nota-se que a demanda por leguminosas pulses é crescente, face às oportunidades dos mercados interno e externo, o que faz com que seja projetado um crescimento para o setor nas próximas décadas. Apesar das estatísticas sobre a participação da agricultura familiar no comércio de pulses no Brasil serem limitadas, essas culturas são propícias para serem cultivadas por esses agricultores por conta de suas características. Por serem colhidos secos, os grãos de pulses podem ser armazenados facilmente sem que estraguem, o que faz dessas culturas uma opção muito boa para agricultores familiares e de subsistência. Em adição, as ações baseadas em proteínas vegetais (plant-based), que utilizam tecnologia e inovação para aproximá-las ao sabor e à textura dos alimentos de base animal, ganham destaque.

Além disso, pulses têm capacidade de formar associações simbióticas com bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico e diferentes grupos de microrganismos promotores de crescimento vegetal. Essas associações configuram-se como um diferencial vantajoso, capaz de colaborar para o crescimento dessas leguminosas em solos de baixa fertilidade ou em áreas submetidas a diferentes estresses abióticos, como seca, salinidade e temperatura. São plantas, portanto, que costumam apresentar resiliência a condições climáticas adversas.

Exemplo de uso de pulses para produção de farinha juntamente com cereais. Foto: Kadijah Suleiman

O Programa Nacional de Bioinsumos reconhece o papel dos inoculantes como uma ferramenta importante para reduzir a dependência de fertilizantes químicos e contribuir para a melhoria da qualidade das plantas e a redução de doenças e pragas. Por meio desse programa, o governo busca incentivar a produção e o uso de inoculantes de qualidade e promover o uso responsável desses insumos na agricultura brasileira. Existem muitas culturas de leguminosas pulses que têm inoculantes registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), como feijão-comum, feijão-caupi, lentilha, grão-de-bico, ervilha e fava.

A criação de um programa de bioinsumos para essas leguminosas pulses, com a distribuição de sementes básicas e de inoculantes com bactérias selecionadas e eficientes agronomicamente, pode ser uma abordagem crítica e construtiva de uma nova política pública que contribua para o desenvolvimento de uma agricultura tropical regenerativa. Lacunas em relação à adoção de uma tecnologia existente esbarram em questões comuns que, normalmente, afetam as políticas públicas: assistência técnica e capacitação. O Brasil pode ser pioneiro nessa iniciativa e ser modelo internacional de um exitoso exemplo de política pública de fomento ao uso e consumo de bioinsumos microbianos em pulses, contribuindo para a segurança alimentar, a geração de renda e o desenvolvimento sustentável para a agricultura familiar, somados à inclusão socioprodutiva.

Feijão-mungo. Foto: Gustavo Xavier

*Anelise Dias é professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ederson da Conceição Jesus, Gustavo Ribeiro Xavier, Luc Felicianus Marie Rouws, Márcia Reed Rodrigues Coelho e Norma Gouvêa Rumjanek são pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, RJ