Gergelim e amendoim diversificam sistema de produção e geram renda

Os produtores rurais do Centro-Sul do Brasil têm um desafio há muito tempo: a questão de alternativas à soja, ao milho e ao algodão, “quase sempre em sistemas de baixa sustentabilidade”, como fala o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Fernando Mendes Lamas. Mas não é somente ele quem diz isso.

Há muito tempo, instituições de pesquisa, como a Embrapa, vêm pesquisando alternativas para diversificar o sistema de produção e levá-las até à assistência técnica e ao produtor rural: Sistema Plantio Direto, Integração Lavoura-Pecuária, Consórcio de Milho com Braquiária e tantos outros ativos tecnológicos foram e são desenvolvidos com o intuito de melhorar a agropecuária brasileira.

Na busca por alternativas, atualmente, duas culturas estão sendo apreciadas pelos produtores: amendoim e gergelim. Mato Grosso, por exemplo, é um estado com uma área considerável de gergelim, cerca de 170 mil hectares, sendo cultivado sempre após a soja. “O amendoim vem crescendo aqui na região Centro-Sul do Brasil. São Paulo é o maior estado produtor de amendoim, 724,1 mil toneladas, na safra 2022/2023. Em Mato Grosso do Sul, dadas suas condições de clima, o amendoim também vem ocupando um espaço muito interessante, cerca de 7 mil hectares, especialmente quando se trata de reforma de canaviais”, afirma Lamas, tendo o amendoim, neste Estado, ganhado espaço nas regiões dos municípios de Nova Andradina e de Glória de Dourados. O pesquisador diz que o amendoim, hoje em dia, apresenta uma rentabilidade atrativa para o produtor rural e isso está animando o setor.

São Paulo é o maior estado produtor de amendoim, 724,1 mil toneladas, na safra 2022/2023. Foto: Sérgio Cobel da Silva

Um ponto ressaltado é quanto à qualidade dos dois produtos, principalmente, do amendoim. Há determinadas condições ambientais que favorecem o estabelecimento de um fungo chamado Aspergillus flavus, que produz uma toxina venenosa para o ser humano. Por isso, o produtor deve ficar atento a condições no campo, como a época de semeadura e a forma de colheita, para evitar que esse fungo se reproduza na cultura.

Na Tecnofam 2024 (Tecnologias e Conhecimentos para a Agricultura Familiar), realizada de 16 a 18 de abril, havia cultivares de amendoim e de gergelim da Embrapa que puderam ser vistas no campo, no Parque de Exposições de Dourados, MS, local onde o pesquisador Lamas mostrou e tirou dúvidas sobre elas. O evento é voltado para produtores rurais de pequenas propriedades, em especial. 

Cultivares de amendoim BRS

Amendoim BRS 421 OL: alta produtividade, direcionada ao consumo de mesa e à indústria de alimentos. A BRS 421 OL é adaptada ao cultivo mecanizado em grande escala. Com manejo adequado, pode atingir uma produtividade de até 5.100 kg/ha. De ciclo tardio – em torno 140 dias – a cultivar apresenta ainda produção satisfatória em plantios tardios ou quando o manejo fitossanitário é deficiente. É indicada para cultivo nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Bahia, Ceará e Pernambuco.

Amendoim BRS 423 OL: alta produtividade e adaptação ao cultivo mecanizado. A BRS 423 OL possui ciclo médio (125 dias) e produtividade de até 5.200 kg/ha, com manejo adequado, com semeadura no início da safra. Possui porte rasteiro, crescimento indeterminado e pode ser plantada em diferentes tipos de solo. É indicada para cultivo nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Goiás, Tocantins, Rio Grande do Sul e Pernambuco. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a cultivar é direcionada ao plantio no início do período chuvoso.

Amendoim BRS 425 OL: ciclo de 135 dias e produtividade média de 5.100 kg/ha, com manejo adequado. A BRS 425 OL apresenta ainda bom desempenho em situações de plantio tardio ou quando o manejo fitossanitário é deficiente. É recomendada para cultivo em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Bahia, Ceará e Pernambuco.

Cultivares de gergelim BRS

Gergelim BRS Morenacultivar de gergelim de coloração marrom avermelhada, que proporciona sabor diferenciado para o consumo in natura e para a indústria alimentícia, com foco no mercado gourmet. A cultivar apresenta alta produtividade de grãos e teor de óleo superior a 50%. Seu ciclo é precoce, com cerca de 90 dias, em condições de sequeiro na região semiárida e 99 no cerrado.  Tem tolerância às principais doenças que atacam a cultura do gergelim.

Gergelim BRS Seda: sementes de coloração branca, que possuem maior valor comercial, principalmente para indústrias de alimentos e confeitarias. Possui potencial para produção de até 2.500 kg/ha, em condições ideais de solo, água e manejo da cultura. Com ciclo precoce em torno de 90 dias, hábito de crescimento ramificado, cápsulas deiscentes e teor de óleo variando entre 50 e 52%.

Gergelim BRS Anahí: desempenho agronômico superior às demais cultivares nas diferentes regiões do Brasil. Além da alta produtividade, possui características qualitativas de interesse da indústria, que atendem às exigências tanto do mercado interno quanto externo. Apresenta sementes de película clara, bem maiores que as disponíveis do mercado, e adaptação à colheita mecanizada ou manual.

Em resumo, amendoim e gergelim são alternativas para os modelos que estão predominando, tanto em Mato Grosso como em Mato Grosso do Sul. Mato Grosso do Sul, soja e milho, e, em Mato Grosso, soja e milho, soja e algodão. “Esses dois produtos hoje têm uma demanda no mercado internacional muito significativa, especialmente o mercado europeu, que é um mercado muito exigente em termos de sistema de produção”, diz Lamas.

Sílvia Zoche Borges 

Embrapa Agropecuária Oeste