Por: Jhonatan Marins Goulart, José Guilherme Marinho Guerra, Norma Gouvêa Rumjaneck, Ednaldo da Silva Araújo, Raul Castro Carriello Rosa e José Antonio Azevedo Espindola
Compostos farelados fermentados do tipo bokashi são fertilizantes formulados por meio da mistura, bioativação e fermentação de resíduos agrícolas ou agroindustriais, geralmente de origem vegetal, por um período de 21 dias. São facilmente preparados e as matérias-primas utilizadas são escolhidas de acordo com a disponibilidade local, obedecendo proporções distintas no momento do preparo.
Para um processo fermentativo adequado, preconiza-se a utilização de uma mistura contendo 60% de uma fonte energética na formulação, como, por exemplo, farelo de trigo, ‘bagaço’ de malte de cervejaria ou farelo das cascas de cacau, entre outras. Esse percentual permite a obtenção de compostos com acidez ideal, em virtude da conversão de açúcares em ácidos orgânicos. Dentre os ácidos produzidos, o láctico predomina, fato que confere odor agradável ao composto, semelhante ao exalado durante o processo de panificação, sobretudo com a utilização do farelo de trigo. Outras matérias-primas também podem ser combinadas nas formulações, como a casca de café e o bagaço triturado de cana-de-açúcar.
Além das fontes energéticas, as misturas devem conter 40% de uma fonte dita complementar, que deve ser mais rica em nitrogênio. Exemplos são os farelos de mamona, de soja, de girassol e também de folhas de espécies da família botânica leguminosa, como da árvore gliricídia. A farinha de peixe também pode ser uma opção, tendo em vista o fato de apresentar altos teores de nitrogênio, cálcio e fósforo.
Após definida a formulação, as matérias-primas são misturadas e homogeneizadas com o auxílio de pás e enxadas. Em seguida, o material é umedecido aos poucos com uma solução inoculante diluída, o que pode ser feito com um regador, até que se alcance o nível de umidade ideal uniformemente distribuído. Isso pode ser percebido comprimindo-se na mão uma pequena amostra de material, que ganhará a forma de um torrão estável, sem esfarelar ou escorrer líquido após a compressão.

Para a bioativação e a inoculação da mistura de farelos, são utilizados microrganismos fermentadores, mantidos em uma solução líquida. Essa solução pode ser preparada por meio da mistura de 50 ml de um produto comercial com uma mistura contendo bactéria láctica e levedura, 50 g de açúcar mascavo e 400 ml de água filtrada, mantida em frasco por sete dias. Ao final desse período, a solução pode ser diluída em 50 l de água, o que permite inocular até 100 kg da mistura de farelos.
Determinado o ponto de umidade, a mistura é gradualmente acondicionada em bombona plástica e compactada até o limite superior do recipiente, com posterior fechamento com tampa rosqueável ou com anel de vedação, como observado no esquema da Figura 1. Nessa condição, com reduzida presença de ar, rapidamente tem início o processo natural de fermentação, sendo detectado um aumento da acidez e da condutividade elétrica. Em condições ideais, o pH pode alcançar valor abaixo de 4,5.
Mantendo-se o recipiente fechado, a mistura permanecerá em condições ácidas no interior da bombona e, assim, o composto não perderá a sua qualidade biológica e química por longos períodos de tempo. Caso o composto não seja todo utilizado de uma única vez, deve-se manter a bombona lacrada, principalmente para evitar alterações provocadas pela perda de nitrogênio, bem como a postura de ovos de moscas. Além disso, a exposição ao ar atmosférico pode contribuir para o apodrecimento da camada superior do composto.
Cabe salientar que o composto do tipo bokashi pode também ser produzido em sistema aberto, com a presença de ar e inoculado com microrganismos capturados por meio de coleta em armadilhas, preparadas com arroz cozido, dispostas sob a serrapilheira de povoamentos florestais ou de bambuzal.
As doses empregadas na fertilização das lavouras variam de acordo com a espécie comercial, sendo, a depender do cultivo, de 0,5 kg a 1,5 kg ou mais de composto por metro quadrado de área, tendo como base a matéria fresca do material.
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*Jhonatan Marins Goulart é engenheiro agrônomo e doutorando orientado por pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, RJ. José Guilherme Marinho Guerra, Norma Gouvêa Rumjaneck, Ednaldo da Silva Araújo, Raul Castro Carriello Rosa e José Antonio Azevedo Espindola são pesquisadores da
Embrapa Agrobiologia.