A diversidade no cultivo do grão se reflete na variedade de tipos consumidos, que mudam conforme as preferências regionais
Alimento essencial na mesa do brasileiro, o feijão é uma das culturas mais emblemáticas do país, com um consumo per capita anual de 12,7 kg. A produção deste grão está distribuída por todas as regiões do Brasil, com destaque para o Sul, que lidera o cenário nacional, seguido por Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. A diversidade no cultivo do feijão se reflete na variedade de tipos consumidos, que mudam conforme as preferências regionais.
Distribuição e produção nacional
O feijão-comum é cultivado em diferentes épocas do ano em todo o território nacional, variando de sistemas consorciados em pequenas propriedades até cultivos altamente tecnificados em grandes áreas irrigadas. A produção é fortemente influenciada por fatores como disponibilidade de nutrientes, água, e vulnerabilidade a pragas e doenças, exigindo atenção contínua dos produtores para garantir uma colheita de qualidade.
Na região Central do Brasil, por exemplo, o feijão é cultivado na primavera (plantio das águas), no verão (plantio da seca), e durante o outono e inverno (plantio do feijão irrigado). O uso de sistemas como o pivô-central é comum em grandes propriedades, onde o controle sobre os fatores de produção é mais rigoroso.

Produção no Espírito Santo
O Espírito Santo é um exemplo notável do papel da agricultura familiar na produção de feijão. Em 2022, o Estado colheu 9.804 hectares do grão, resultando em uma produção de 9,9 mil toneladas, com uma produtividade média de 1.045 kg/ha. Esse desempenho posicionou o Espírito Santo como o 19º maior produtor do país, contribuindo com 0,3% da produção nacional. No mesmo ano, o valor total de produção foi de R$54,6 milhões, representando 0,23% do Valor Bruto da Produção Agropecuária capixaba.
Em 2023, os números indicam um crescimento positivo. A área colhida aumentou para 9.609 hectares, a produção chegou a 10.482 toneladas e o rendimento médio subiu para 1.091 kg/ha, conforme mostra a tabela abaixo:
Ano | Área colhida (ha) | Produção (t) | Rendimento Médio (kg/ha) |
2022 | 9.486 | 9.909 | 1.045 |
2023 | 9.609 | 10.482 | 1.091 |
Essa variação representa um crescimento de 1,30% na área colhida, 5,78% na produção e 4,43% no rendimento médio entre 2022 e 2023.
Ranking por municípios no Espírito Santo
Dentro do Estado, a produção de feijão é dominada por alguns municípios chave. Santa Maria de Jetibá lidera com uma área colhida de 1.770 hectares, resultando em 2.956 toneladas de feijão em 2022, com um rendimento médio de 1.670 kg/ha. Seguem Domingos Martins e Dores do Rio Preto, com produções de 525 e 387 toneladas, respectivamente. A tabela a seguir resume o desempenho dos principais municípios:
Município | Área Colhida (ha) | Produção (t) | Rendimento Médio (kg/ha) |
Santa Maria de Jetibá | 1.770 | 2.956 | 1.670 |
Domingos Martins | 540 | 525 | 972 |
Dores do Rio Preto | 705 | 387 | 549 |
Ibatiba | 480 | 348 | 725 |
Alegre | 450 | 315 | 700 |
Alfredo Chaves | 190 | 304 | 1.600 |
Pinheiros | 210 | 301 | 1.433 |
Colatina | 210 | 291 | 1.386 |
Desafios e perspectivas para a cultura
A produção de feijão enfrenta diversos desafios, especialmente nas pequenas propriedades, que são dominadas pela agricultura familiar. No Espírito Santo, a baixa adoção de tecnologia é um dos principais entraves, com apenas 30% das áreas utilizando irrigação e 50% sem realizar análises de solo.
Segundo o engenheiro-agrônomo Luiz Fernando Favarato, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a produção de feijão no Espírito Santo poderia ser significativamente ampliada com a adoção de técnicas simples como a irrigação e a análise de solos. “Com essas práticas, é possível melhorar a produtividade, tornando o cultivo de feijão uma atividade mais lucrativa e sustentável para os agricultores familiares do Estado”, destaca ele.
Favarato diz que o aumento da produtividade no Estado está diretamente ligado à adoção de práticas mais sustentáveis e eficientes. “Com o uso de técnicas simples, como a análise de solos e a adoção da irrigação, a produtividade do feijão pode ser ampliada significativamente. No Espírito Santo, já observamos melhorias na produção, e a tendência é que, com o fim do El Niño, esses números continuem a crescer”, aponta o agrônomo.
Além disso, o Brasil, como um todo, vem se beneficiando de avanços tecnológicos na agricultura, que permitem uma produção mais eficiente e sustentável. “Estamos alinhados com as tendências globais de produção sustentável de grãos. Isso não só melhora a produtividade, mas também assegura a qualidade e a disponibilidade de alimentos para a população”, conclui Favarato.

O feijão é visto como uma cultura complementar na maioria das propriedades capixabas, onde pequenas áreas são utilizadas principalmente para subsistência e complementar a renda, muitas vezes em consórcio com outras culturas, como o café.
O papel da tecnologia na produção futura
Conforme o representante do Incaper, a aplicação de tecnologias simples, como a irrigação e a análise de solos, pode ter um impacto significativo na produtividade. No Espírito Santo, por exemplo, a adoção dessas práticas poderia aumentar a produtividade média e, consequentemente, melhorar a posição do Estado no ranking nacional de produtores.
Para o futuro, espera-se que a área e a produtividade do feijão no Brasil continuem a crescer, impulsionadas pela inovação tecnológica e pela integração de práticas agrícolas mais eficientes. A autossuficiência do país na produção de feijão ainda é um objetivo, mas com o avanço das tecnologias e o apoio ao agricultor familiar, esse cenário se torna cada vez mais viável.
Dados nacionais e impactos climáticos
Favarato destaca que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de feijão, mas o clima tem sido um fator crucial que afeta a produção. Recentemente, o país enfrentou os impactos do El Niño, que provocaram alterações significativas nas chuvas, especialmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. Essas regiões são responsáveis por uma parte significativa da produção nacional de grãos, e o fenômeno impactou a produtividade.
Apesar desses desafios, o Brasil mantém uma produção robusta, com previsões de recuperação nos próximos ciclos agrícolas, à medida que as condições climáticas retornam à normalidade. Esse cenário coloca a produção de feijão como um ponto central nas discussões sobre segurança alimentar e sustentabilidade no país.
O feijão continua a ser um pilar da agricultura brasileira, com desafios e oportunidades moldados por fatores climáticos, tecnológicos e econômicos. Com iniciativas focadas em sustentabilidade e eficiência, o Brasil está bem posicionado para não apenas manter, mas aumentar sua produção de feijão nos próximos anos, assegurando a presença desse alimento essencial na mesa dos brasileiros.
