Empresa seguirá atuando como articuladora entre o conhecimento científico e as demandas reais dos agricultores familiares
Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, presidente da Embrapa
Embrapa 50+ é o marco de uma nova etapa de atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nos próximos 50 anos, a pesquisa e a inovação, razão de existir da nossa empresa, serão orientadas a partir de três importantes pilares: Sustentabilidade, Inclusão e Vanguarda. Por isso, consideramos o investimento na agricultura familiar fundamental para o alcance da nossa agenda estratégica. Mais do que gerar tecnologias a partir da ciência agropecuária, temos o compromisso de contribuir para que as nossas soluções cheguem aos milhões de agricultores familiares, gerando renda e melhores condições de vida para as famílias.
Em tempos de mudanças climáticas, com impactos significativos para a população brasileira, onde fortes chuvas destruíram parte dos cultivos no Rio Grande do Sul e queimadas atingiram áreas de proteção natural, propriedades rurais e plantações em estados brasileiros, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste, consideramos a agricultura familiar braço essencial para que possamos alcançar as mudanças tão desejadas de mitigação, resiliência e adaptação climática.
Parceira na conservação da biodiversidade, a agricultura familiar é fonte importante para o desenvolvimento de muitos produtos e serviços ecossistêmicos. Muitas espécies, por exemplo, podem ser estudadas e utilizadas na produção de bioinsumos, sejam biofertilizantes, biopesticidas ou inoculantes, iniciativa que contribui fortemente para a redução da emissão de gases de efeito estufa. É também responsável pela geração de alimentos saudáveis para o combate à fome e à insegurança alimentar, uma de nossas plataformas de atuação para os próximos anos.
Atualmente, a atividade representa 78% dos estabelecimentos agropecuários, ou seja, 3,7 milhões deste universo, 67% da população ocupada, e 23% da área da agropecuária. Nossos produtores contribuem para chegar à mesa do brasileiro a mandioca, o leite, a banana, o arroz e o feijão, entre outros alimentos. Já são 1,7 milhão de mulheres na gestão ou codireção (segundo dados do Censo Agropecuário de 2017). Por isso, nos próximos anos, a pesquisa deverá intensificar os trabalhos com a agricultura orgânica e agroecológica, sistemas que têm potencial de fortalecer a atividade de produtores familiares ou pequenos produtores.
Além disso, a produção baseada em espaços territoriais pode facilitar a formação de arranjos periurbanos que encurtam os circuitos de produção-consumo, promovendo mais sustentabilidade. A agroindustrialização também é vista como uma ferramenta para agregar valor aos produtos da agricultura familiar, promovendo o desenvolvimento de bioeconomias regionais e a geração de emprego e renda.
Dessa forma, o futuro da agricultura familiar passa não só pela inovação tecnológica e pelo fortalecimento das capacidades produtivas, mas também pela criação de políticas públicas inclusivas que integrem essas famílias ao mercado global de forma justa e sustentável.
Por isso, nos próximos anos, a Embrapa seguirá atuando como articuladora entre o conhecimento científico e as demandas reais dos agricultores familiares, garantindo que as soluções desenvolvidas como novas cultivares adaptadas às condições climáticas adversas e técnicas de manejo sustentável, estejam acessíveis e sejam aplicáveis na prática. A conectividade no campo também surge como um ponto estratégico para que esses agricultores possam se beneficiar das ferramentas digitais, facilitando a disseminação de informações, acesso a mercados e a tomada de decisões.
Além da agricultura familiar, é imprescindível reconhecer o papel das comunidades indígenas e quilombolas, especialmente na Amazônia, para a conservação da biodiversidade e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis. Essas comunidades são guardiãs de vastos conhecimentos tradicionais sobre o manejo do solo, das águas e das florestas, e desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de sistemas agroecológicos que respeitam os ciclos naturais e preservam os recursos essenciais para a vida.
Nosso papel, enquanto empresa pública de pesquisa, é fortalecer ações junto a essas populações, promovendo uma ciência colaborativa que integre saberes ancestrais com inovações tecnológicas, especialmente no contexto da bioeconomia amazônica.
Desde 2007, são 331 projetos na Embrapa com foco em agricultura familiar, 60 deles em execução, mais de R$161 milhões em investimento, entre 2007 e 2024. Também estamos fortalecendo nossa contribuição para políticas públicas. Em 2023, Embrapa e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) firmaram parceria para levar o Sisteminha Embrapa para milhares de famílias em todo o território nacional. O Sisteminha permite que famílias se alimentem com o que é produzido na propriedade, por meio de estruturas montadas no lugar. A tecnologia completou 21 anos e seus resultados são tão positivos que agora criamos o Sisteminha Comunidade, oportunidade para as famílias comercializarem o excedente e gerarem renda.
Assim, nesta edição vamos apresentar o que a ciência agropecuária da Embrapa tem gerado para garantir que a agricultura familiar seja mais resiliente, produtiva e sustentável. Projetos tais como o Sisteminha Embrapa, fossa séptica biodigestora, sistema orgânico de produção de frutas e hortaliças, sistemas agroflorestais no Semiárido, recomposição nativa no Cerrado, Zoneamento Agrícola de Risco Climático do Açaí na Amazônia, sustentabilidade da soja, novas cultivares de sorgo forrageiro, são exemplos do que a Embrapa vem desenvolvendo para a agricultura familiar, em parceria com as instituições de pesquisa regionais, os órgãos de extensão rural, as cooperativas e associações.
Sabemos que a pesquisa não chega sozinha a quem mais interessa, precisamos de esforços coletivos para fazer essa transformação. E é isso que mostraremos a partir das próximas páginas.
Boa leitura!