Mato Grosso é o principal estado produtor, tendo sua expansão impulsionada pela conversão de áreas de pastagem em lavouras agrícolas, devido à maior rentabilidade da soja em comparação à pecuária
A soja ocupa uma posição central na agricultura brasileira, representando cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 25% do PIB do agronegócio. Na safra 2022/2023, o Brasil consolidou sua liderança mundial na produção de soja, superando 150 milhões de toneladas, à frente de concorrentes como os Estados Unidos e a Argentina, conforme dados da Conab. Atualmente, conforme pesquisa da Embrapa Soja, a cultura está presente em todos tamanhos de propriedades rurais.
Conforme a Embrapa Soja, a trajetória da oleaginosa no Brasil começou a se intensificar nas décadas de 1970 e 1980, quando o país iniciou a expansão agrícola em regiões como o Cerrado. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), criada em 1973, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento de variedades de soja adaptadas ao solo e clima brasileiros, contribuindo para o crescimento do setor.
Com a adoção de sementes transgênicas e avanços tecnológicos nas décadas de 1990 e 2000, o Brasil passou de um produtor de médio porte para o maior produtor mundial de soja. A demanda chinesa foi um fator-chave nessa transformação, uma vez que a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras.
A produção de soja no Brasil está espalhada por 20 estados e no Distrito Federal, sendo os principais produtores os estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás, conforme levantamento realizado pelo pesquisador da Embrapa Soja, André Steffens Moraes.
E de acordo com ele, dos 236 mil estabelecimentos agropecuários produtores de soja brasileiros, 83% (196 mil estabelecimentos) encontram-se na região Sul do Brasil. No RS, 81% dessas propriedades possuem menos de 50 hectares. No Paraná, 79% dos estabelecimentos produtores de soja são pequenas propriedades e, em SC, 87% dos estabelecimentos têm menos de 50 hectares. As regiões Centro-Oeste e Sudeste participam com aproximadamente 4% do total de pequenas propriedades produtoras de soja ou cerca de 6 mil estabelecimentos cada uma e as regiões Norte e Nordeste, com menos de 1% cada. Esses dados comprovam que, a produção da soja não acontece apenas por parte dos grandes produtores, mas está presente em diferentes tamanhos de propriedades.
Produção de Soja por Estado (2022/2023)
Estado | Área Cultivada (ha) | Produção (milhões de toneladas) | % da Produção Nacional |
Mato Grosso | 12,48 milhões | 39,05 milhões | 27% |
Paraná | 6,1 milhões | 18 milhões | 12% |
Rio Grande do Sul | 6,9 milhões | 22 milhões | 15% |
Goiás | 3,7 milhões | 12 milhões | 8% |
Mato Grosso é o maior produtor do país
O estado de Mato Grosso é o maior produtor de soja, com uma participação de 27% na safra nacional. Na safra 2023/2024, a área plantada foi consolidada em 12,48 milhões de hectares, representando um aumento de 29,4% em relação à safra anterior.
O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, explica que esse crescimento foi impulsionado pela conversão de áreas de pastagem em lavouras agrícolas, devido à maior rentabilidade da soja em comparação à pecuária.
Desafios climáticos
A safra 2023/2024 foi marcada por desafios climáticos, especialmente no Mato Grosso, onde o fenômeno El Niño trouxe calor extremo e chuvas irregulares, impactando a produtividade. Em Mato Grosso, a produtividade caiu 16,29%, passando de 61,45 para 52,16 sacas por hectare. Apesar do aumento da área plantada, a produção total foi reduzida para 39,05 milhões de toneladas, uma queda de 13,84% em relação à safra anterior.
Gauer aponta que a recuperação da produtividade dependerá de investimentos em tecnologias de mitigação, como sistemas de irrigação e o uso de sementes resistentes à seca.
Variação na Produtividade de Soja (sc/ha) entre safras
Estado | Safra 2022/2023 (sc/ha) | Safra 2023/2024 (sc/ha) | Variação (%) |
Mato Grosso | 61,45 | 52,16 | -16,29% |
Goiás | 59,21 | 55,12 | -6,9% |
Paraná | 64,22 | 60,34 | -5,7% |
O impacto do clima não afetou apenas o Mato Grosso, mas também outras regiões produtoras de soja no Brasil, como o Paraná e Goiás, que também registraram quedas na produtividade.
Desafios logísticos e o escoamento da produção
A logística é um dos maiores desafios para o escoamento da soja no Brasil, especialmente em estados como Mato Grosso, que estão distantes dos principais portos exportadores, como Santos e Paranaguá. A falta de infraestrutura adequada, como estradas e ferrovias, eleva os custos de transporte, tornando a produção brasileira menos competitiva no mercado global.
Além disso, a capacidade de armazenagem também é um problema, forçando os produtores a escoarem rapidamente suas safras, muitas vezes em condições desfavoráveis de preço.
Gauer ressalta a importância de investimentos em infraestrutura logística, como ferrovias e armazenagem, para otimizar o escoamento da produção e aumentar a competitividade brasileira no mercado internacional.
Políticas públicas
O governo brasileiro tem desempenhado um papel importante no incentivo à produção de soja. O Plano Safra, por exemplo, oferece linhas de crédito subsidiado para produtores que desejam investir em tecnologia, insumos e expansão de suas propriedades. Políticas de seguro agrícola também foram implementadas para mitigar os riscos climáticos, ajudando os agricultores a lidar com eventuais perdas sazonais.

De acordo com o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, no que diz respeito a participação dos agricultores familiares no cultivo da soja, é essencial combinar o acesso a tecnologias apropriadas, além de considerar a participação em cooperativas, políticas de apoio governamental e capacitação técnica. Essas medidas podem ajudar a superar os desafios associados à produção de soja em pequena escala, garantindo uma integração mais ampla e sustentável ao setor agrícola.
Mercado internacional
A soja brasileira tem se beneficiado de mudanças no mercado global, especialmente com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, que abriu novas oportunidades para o Brasil. Em 2023, 61% das exportações de soja do Mato Grosso foram destinadas à China, 17,32 milhões de toneladas, consolidando a importância do mercado chinês para os produtores brasileiros.

Além disso, o aumento da demanda por biocombustíveis, como o biodiesel, representa uma oportunidade de diversificação, uma vez que o óleo de soja é amplamente utilizado na produção de combustíveis sustentáveis.
Perspectivas futuras
As perspectivas para o futuro da soja no Brasil são otimistas. O Imea projeta que a área plantada de soja em Mato Grosso crescerá 11,4% até 2032, atingindo 16,5 milhões de hectares. Gauer ressalta que o crescimento será impulsionado por novas tecnologias, como sementes mais resistentes, e pela crescente demanda global por alimentos e biocombustíveis.