Agricultura urbana: inovações sociais para segurança alimentar e adequação às mudanças climáticas

Por: Mariella Uzêda, Maria Elizabeth Fernandes Correia e Mauro Vianello

A agricultura urbana e periurbana (AUP) tem sido considerada uma estratégia essencial para resolver questões de sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e redução da pobreza em todo o mundo. Com a urbanização crescente, e a consequente expansão das áreas construídas, à custa de áreas naturais e agrícolas, ela tem sido apontada como uma possibilidade de acesso a alimentos saudáveis, seguros e de alta qualidade. Junto com os espaços verdes remanescentes nos centros urbanos, também é apontada como potencial geradora de uma ampla variedade de serviços ecossistêmicos, contribuindo para minimizar as ilhas de calor e aumentar a infiltração da água no solo, reduzindo as enxurradas e o alagamento, além de servir de abrigo adequado para a biodiversidade e trazer benefícios para o bem-estar humano.

Entretanto, alcançar as expectativas de produção de alimentos e de serviços ecossistêmicos anteriormente mencionados implica em superar inúmeras dificuldades impostas à agricultura, inerentes ao ambiente urbano, e suplantar os desafios climáticos que vulnerabilizam destacadamente as cidades. O relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas chama atenção para a exposição das cidades a extremos de temperatura, elevação do nível do mar, tempestades severas e seus efeitos subsequentes na infraestrutura, na qualidade da água, na saúde pública e no desenvolvimento econômico.

Diferentes contextos da agricultura urbana e periurbana na cidade do Rio de Janeiro. Foto: Maria Elizabeth Correia

Além disso, as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente os grupos urbanos mais vulneráveis, que, muitas vezes, vivem em áreas baixas e propensas a inundações ou em encostas íngremes, com acesso limitado a meios de subsistência viáveis ​​e com segurança alimentar e nutricional precária, o que torna imprescindível o desenvolvimento de tecnologias e sistemas adequados à sua realidade e capazes de suportar os revezes climáticos. Nesse sentido, os distintos espaços voltados à AUP (quintais, terraços, etc.) devem ser planejados com foco no atendimento às demandas dos diferentes grupos que compõem o território, tendo como base para a consolidação dos sistemas produtivos os recursos localmente disponíveis, considerando ativos locais como a biodiversidade e o patrimônio cultural.

Um sistema alimentar resiliente é entendido como um sistema que tem a capacidade de fornecer alimentos saudáveis, de maneira sustentável ​​e justa, suficientes para todos ao longo do tempo, sendo capaz de recuperar a capacidade produtiva e manter a segurança alimentar mesmo diante de circunstâncias instáveis.

Plantação de Hortaliças. Foto: Maria Elizabeth Correia

O uso de práticas de produção sustentáveis ​​e a proteção da agrobiodiversidade podem servir como caminhos para melhorar a qualidade da dieta e gerar renda para pequenos agricultores, ao mesmo tempo em que auxiliam na restauração e na conservação dos ecossistemas. Construir a resiliência em uma cidade requer uma abordagem integrada, baseada em ecossistemas, que considere a adaptação às mudanças climáticas, o alívio da pobreza, a geração de renda e a segurança alimentar. A AUP pode contemplar estratégias adequadas para abordar esses desafios, considerando os diferentes grupos que o ambiente urbano abriga.

*Mariella Uzêda, Maria Elizabeth Fernandes Correia e Mauro Vianello são pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, RJ