Mulheres no campo: aumenta o número de mulheres que trabalham na agricultura

De acordo com o último Censo Agro 2017, são 946,1 mil mulheres que trabalham como produtoras, o que representa 19% do total, superando os 13% registrados em 2006

O número de mulheres que trabalham com a agricultura tem aumentado nos últimos anos. De acordo com o último Censo Agro 2017, são 946,1 mil mulheres que trabalham como produtoras, o que representa 19% do total, superando os 13% registrados em 2006.

A deputada federal Elisângela Araújo (PT), nasceu e foi criada no campo, no município de Valente/BA, e conhece bem a realidade da agricultura familiar. “Desde pequena, aprendi com minha família sobre a importância da conexão com a terra e da produção sustentável. Minha trajetória na agricultura me ensinou não só a cultivar os alimentos, mas também a importância de lutar por direitos e dignidade para todos os agricultores e agricultoras. Acredito que minhas experiências no campo me prepararam para a política, onde busco representar as vozes das mulheres da cidade e do campo, promovendo políticas que atendam suas necessidades e desafios”, comenta.

Mesmo com o aumento do número de mulheres no campo, elas ainda enfrentam grandes dificuldades. A deputada cita que os desafios são de acesso ao crédito, assistência técnica e recursos. “Muitas vezes, também lidam com a dupla jornada de trabalho – a que realizam na roça e a que mantêm em casa. A falta de reconhecimento do trabalho das mulheres no campo e a desigualdade de gênero nos ambientes rurais ainda são questões alarmantes. Além disso, as condições climáticas adversas e a insegurança alimentar aumentam a vulnerabilidade dessas mulheres”, esclarece.

Mesmo com essas dificuldades, as mulheres agricultoras têm, mesmo que devagar, conquistado mais espaço. A exemplo disso, temos o Censo Agro 2017 que pesquisou pela primeira vez o compartilhamento de direção nos estabelecimentos. São 1.029.640 estabelecimentos compartilhados pelo casal, o que representa 20% do total, sendo 817 mil mulheres dividindo a direção com o cônjuge. 

Sobre o trabalho que as mulheres desempenham no campo, a deputada, diz que elas realizam um papel fundamental na promoção da sustentabilidade e na garantia da segurança alimentar. “Elas são as responsáveis pela gestão da casa e, muitas vezes, pela alimentação da família, o que as torna agentes de mudança. Mulheres agricultoras têm maior inclinação para práticas sustentáveis, como a agroecologia, e já demonstraram que a inclusão delas em decisões sobre o cultivo resulta em sistemas alimentares mais promissores”.

A Bahia é o estado com o maior número de mulheres que assumiram a direção de um estabelecimento agropecuário. São 303,7 mil mulheres que estão à frente do trabalho no campo no Estado, número que considera produtoras que compartilham a direção com o cônjuge ou não. 

Esses números se devem aos avanços consideráveis, como a realização de programas de capacitação específicos para as mulheres e a criação de políticas que reconhecem e valorizam o trabalho feminino na agricultura, o que reflete na conquista de espaço dentro e fora das propriedades.

“A presença crescente de mulheres em cooperativas e associações mostra que há um espírito de coletividade e empoderamento em nosso setor que não havia antes. Além disso, houve um fortalecimento de Políticas Públicas importantes, como a Implementação da Política Nacional da Agricultura Familiar (PNAF), priorizando a inclusão das mulheres, melhorias também no acesso ao crédito, por meio da ampliação do Pronaf com linhas de crédito específicas para mulheres agricultoras, entre outras ações que têm contribuído para a valorização e autonomia das mulheres na agricultura familiar”, exemplifica. 

Ao falar sobre cooperativismo e a agricultura familiar, especialmente para mulheres, a deputada traz informações sobre o estado da Bahia, que possui uma vasta extensão territorial de mais de 567 mil km² e uma população estimada em 15 milhões de habitantes, e tem uma particularidade que o destaca no cenário nacional: é o Estado que abriga o maior número de agricultores e agricultoras familiares do Brasil. 

“Isso não é apenas um número. É um sinal da riqueza de nossa diversidade cultural e da força das comunidades rurais”, pontua, acrescentando que, ao assumir a Secretaria Estadual das Mulheres percebeu de perto o papel crucial que elas desempenham neste setor. “Estima-se que cerca de 610.908 mulheres estão ativamente envolvidas na produção agropecuária na Bahia. Essas mulheres não são apenas agricultoras, elas são agentes de mudança, que produzem alimentos, geram renda e, mais importante, alimentam suas comunidades”, enfatiza. 

Assim como nos demais estados, a deputada esclarece que ainda são muitos os desafios relacionados à desigualdade de gênero. “As disparidades salariais, o acesso limitado à educação e as poucas oportunidades de liderança são questões que ainda persistem na Bahia. E é por isso que iniciativas como o projeto Cooperativas com Elas, promovido pela Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres em parceria com a Unicafes/BA, são tão vitais”, salienta.

Conforme Elisângela, esse projeto já beneficia 1.400 mulheres, oferecendo capacitação em temas cruciais como empoderamento feminino e enfrentamento da violência de gênero. Além de promover a constituição de novas cooperativas, essa iniciativa visa ampliar a inclusão feminina nos grupos produtivos locais. “Estamos não apenas gerando renda, mas também moldando um futuro em que a mulher ocupa o seu lugar de direito nas cadeias produtivas. Ao capacitar mulheres para liderar no cooperativismo, o governo não está apenas ampliando suas oportunidades e rendas, mas reafirmando que a verdadeira transformação social começa com a força e o empoderamento feminino. Eu espero que no futuro, cada agricultora deste país possa colher os frutos do nosso trabalho e dedicação”, argumenta, completando que é dessa maneira que o país segue se alinhando aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), colaborando ativamente para a erradicação da pobreza, Fome Zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade e igualdade de gênero. 

Além dos problemas como acesso ao crédito e assistência, as mulheres do campo, assim como as da cidade, enfrentam um desafio em comum: a violência. “Para combater a violência doméstica e o assédio, precisamos implementar políticas públicas que garantam proteção e apoio às mulheres. Isso inclui a criação de unidades de atendimento no campo, onde as mulheres possam denunciar abusos e receber suporte psicológico. Além disso, é essencial promover a educação e a conscientização nas comunidades sobre direitos e violência, com programas de fortalecimento comunitário que podem ajudar a dar visibilidade a esses problemas e envolver os homens na luta contra a violência e na promoção da equidade”, aponta.

De acordo com a deputada Elisângela, a criação de redes de apoio e a colaboração entre organizações, governo e sociedade civil são fundamentais para avançar nessas pautas. “Também é necessário que as políticas públicas que promovem a agricultura familiar estejam sempre focadas na inclusão das mulheres, garantindo que tenham recursos e acesso às tecnologias necessárias para enfrentar os desafios atuais. Se queremos um futuro melhor, precisamos garantir espaço para a voz e as necessidades das mulheres nas decisões políticas e sociais”, conclui.

Trajetória 

A deputada conta que a sua trajetória política iniciou em Valente/BA, nas comunidades rurais da região sisaleira. Filiada ao PT, cresceu nos movimentos sociais e tornou-se coordenadora-geral da Federação Nacional da Agricultura Familiar (Fetraf), presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Sintraf) de São Domingos, e diretora da CUT Bahia, entre outras atuações, como na diretoria executiva da CUT Nacional por três mandatos e secretária-geral do Departamento Nacional dos Trabalhadores Rurais (DNTR/CUT), além de secretária agrária no Diretório Nacional do PT. “Antes de assumir a Secretaria de Política para as Mulheres (SPM), em janeiro de 2023, fui uma das coordenadoras do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento Agrário do Governo de Transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, entre novembro e dezembro de 2022”, acrescenta.

A trajetória eleitoral começou em 2014, quando concorreu a deputada federal, assim como, em 2018. Mas foi em 2022 que ficou como suplente, assumindo uma cadeira na Câmara dos Deputados em julho de 2024, com a saída do deputado Zé Neto para concorrer às eleições municipais.