O estudo de avaliação de impactos das barragens subterrâneas no Semiárido brasileiro, desenvolvido ao longo das últimas décadas, aponta que as famílias agricultoras têm realizado o redesenho de seus agroecossistemas a partir da implementação dessa tecnologia social e de projetos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa Solos, por meio de sua Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento (UEP Recife) e parceiros.
A partir de uma demanda de agricultores e agricultoras alagoanos, a UEP Recife e um conjunto de parceiros estão executando o Projeto GuardeÁgua, que teve início em julho de 2023 e conta com várias atividades e oficinas de construção do conhecimentos já realizadas. A iniciativa está sendo desenvolvida nos territórios do Agreste, Médio e Alto Sertão de Alagoas, com famílias agricultoras que possuem a tecnologia social hídrica barragem subterrânea em seus agroecossistemas. Eles serão multiplicadores irradiadores das inovações tecnológicas desenvolvidas em suas comunidades.
A líder do projeto, Maria Sonia Lopes da Silva, pesquisadora da Embrapa Solos, explica que o GuardeÁgua é uma iniciativa de inovação social, co-desenvolvida com agricultores e agricultoras e voltada para eles, buscando aprimorar sistemas de manejo da água, solo e cultivos para aumentar a sustentabilidade de agroecossistemas que contam com barragem subterrânea no Semiárido alagoano. O objetivo principal, segundo ela, é fortalecer a reprodução social, econômica e ecológica das famílias agricultoras de áreas de escassez de água de chuva, tornando-as menos dependentes de políticas compensatórias.
A pesquisadora explica que a questão dos locais apropriados para a construção das barragens subterrâneas em Alagoas a Embrapa Solos/UEP Recife e parceiros já resolveram em outro projeto, o ZonBarragem Alagoas, que elaborou e entregou ao governo estadual, em 2019, oito mapas de áreas com potencial para barragem subterrânea.
A iniciativa do GuardeÁgua, liderada pela Embrapa Solos, conta com a parceria da Embrapa Semiárido, Embrapa Caprinos e Ovinos, Embrapa Agroindústria Tropical e Embrapa Hortaliças; de ONGs integrantes da rede ASA Brasil (Cactus, Cedecma, Aagra, ITViva); do Instituto Federal de Alagoas (IFAL – Campus Santana do Ipanema); das Universidades Federal e Estadual de Alagoas e Estadual da Paraíba; do Sistema Faeal/Senar; do Sebrae e do Governo de Alagoas (Semarh, Seagra e Emater).
Sistemas de produção agroecológicos e plataforma tecnológica digital
O projeto possui duas soluções para inovação de desenvolvimento técnico. Uma delas consta de sistemas de produção agroecológicos de múltiplos cultivos para áreas de plantio de barragem subterrânea, baseados na interculturalidade, visando à soberania e segurança hídrica, alimentar e nutricional de famílias agricultoras do Semiárido alagoano.
A outra solução será uma plataforma tecnológica digital, composta de um aplicativo e um site, para identificação de áreas apropriadas à construção de barragem subterrânea e para recomendações de manejo das áreas de plantio. Quando lançada, a plataforma poderá ser utilizada por técnicos de assistência e extensão rural, agentes de desenvolvimento rural sustentável e famílias agricultoras de todo Semiárido brasileiro.
“O aplicativo utilizará recursos do dispositivo móvel, como por exemplo o GPS, e variáveis locais de geologia, solo, clima e relevo, para estimar o potencial de uma área para a implantação de barragem subterrânea, seu dimensionamento, materiais necessários e o passo a passo de sua construção. Esse aplicativo também fornecerá indicações de práticas de manejo do solo, da água e de cultivos apropriados para a área da barragem subterrânea dimensionada”, explica o pesquisador Luís de França da Silva Neto, da Embrapa Solos/UEP Recife.
Para o desenvolvimento da Plataforma GuardeÁgua, a Embrapa Solos assinou um contrato de cooperação técnica com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). As barragens subterrâneas integram o conjunto de tecnologias sociais implementadas pelo Programa Cisternas.
“A Embrapa e seus parceiros têm promovido inovações transformadoras por meio de pesquisas que estão colaborando com a redução do impacto da escassez da água de chuva na produção agropecuária do Semiárido brasileiro. Uma contribuição efetiva para a inclusão socioprodutiva das famílias agricultoras da região, a partir da gestão eficiente do solo e da água”, destaca a pesquisadora Maria Sonia da Silva.
Fernando Gregio
Embrapa Solos